John Tranter e Yolanda Hopkins são mais do que uma dupla treinador-surfista. Numa relação que escala a um patamar superior, o "pai substituto" transformou a surfista algarvia, de 27 anos, na primeira portuguesa no circuito mundial de surf.
Conquistaram o título de campeã nacional, bicampeã europeia WSL, vice-campeã mundial ISA e dois Jogos Olímpicos, Tóquio2020 e Paris2024. Dedica-lhe a exclusividade, zangam-se e regressam aos treinos. Entre elogios, "Dog" deixa um aviso: é realmente boa.
Por detrás de um grande homem, há sempre uma grande mulher. No caso de John Tranter e Yolanda Hopkins os papéis invertem-se, mas a grandeza de ambos mantém-se. Em robustez física e conhecimento, no caso de John, o treinador, e talento e empenho, do lado de Yolanda Hopkins, a primeira portuguesa a qualificar-se para o circuito mundial de surf.
O britânico John Tranter, "dono" do Pigdog Surf Camp, em São Torpes, Sines, Alentejo e a surfista portuguesa, Yolanda Hopkins, são uma dupla inseparável formada antes do primeiro título nacional (Liga MEO) da algarvia, em 2019.
Começou com a abertura de portas da casa de Tranter, e sua mulher, a Yo-Yo e ao apoio financeiro prestado para participação em provas internacionais.
Posteriormente, escalou a um grau de tutoria que extravasa o domínio da relação treinador-atleta, conexão admitida por ambos. Entrou e está num capítulo de maior cumplicidade ao ponto de encaixar-se em domínios de substituição do pai biológico de Holanda Hopkins, falecido há dois anos.
Antes de entra na esfera pessoal, John Tranter fixa-se no caminho em conjunto até à qualificação de Yolanda Hopkins para o Championship Tour (CT), circuito de elite da Liga Mundial de Surf (WSL), feito alçando na etapa de Saquarema, Rio de Janeiro, do Challenger Series.
"Foi um longo, longo caminho. Realmente longo", sublinha. "Durante muitos anos, teve a técnica, a habilidade para chegar lá, mas havia sempre há algo, um pequeno erro, uma má decisão ou uma má onda", recorda ao SAPO DESPORTO.
"Ela sentia como se Jesus estivesse contra nós ou algo do género", recordou o ex-surfista britânico, conhecido por Johnny Pigdog.
Contrariedades à parte, Yolanda Hopkins conseguiu. "Ela é realmente forte, levanta-se e continua. Quando esteve perto de se qualificar por três vezes, apenas a um heat de distância, ao invés de ir para casa e chorar, disse que ia ganhar no ano seguinte e começámos a treinar", recorda.
Para John Tranter, Hopkins tem "uma atitude diferente" e essa é a razão pela qual continuam juntos "há tanto tempo", assume. "Porque sabia que, com a atitude, se treinasse, iria conseguir", resume.
Podemos discordar, chocar, ela sair, voltar meia hora depois e voltarmos a treinar. Se fizer isso com outro aluno, nunca mais voltam
As razões da singularidade desta relação entre ambos são sobejamente conhecidas. "Muitas coisas aconteceram. Durante as competições, o pai dela morreu, ela mora comigo e a minha mulher, acabei como um pai substituto", esclarece assumindo-se como "família em part-time e treinador", sorri.
Mas não só. A ligação vai mais profunda. John Tranter introduz uma nota de índole pessoal que reforçou este encaixe. "Além disso, a minha mãe e o meu pai morreram enquanto estávamos longe (em competição). Todas essas pequenas coisas que passámos juntos, fortalece a nossa confiança e relação", admite.
"Se lhe disser algo, ela acredita e tenta a 100%", aponta. "O treino reveste-se de muita familiaridade, podemos discordar, chocar, ela sair, voltar meia hora depois e voltarmos a treinar. Se fizer isso com outro aluno, nunca mais voltam", explica, ao destacar estes pequenos pormenores distintivos na relação de treinador com a surfista algarvia de 27 anos.
"É aí que a relação se torna especial. Mas isso, vem com o tempo", assegura. "Ouvi muitos outros treinadores dizerem que quando têm treinos individuais por muito tempo, conseguimos isso, podemos discordar, separar e voltar", adianta.
Embora admita ter outros grupos de surfistas a quem dá treino quando estão "em casa", a tempo inteiro só tem Yolanda Hopkins, a pedido da própria. "A Yolanda prefere o treino individual, um para um. Recebe 100% de atenção", clarifica.
Yolanda Hopkins está qualificada para o circuito mundial de surf 2026, a iniciar em abril do próximo ano e John Tranter reforça o estado de espírito de ambos. "Estamos prontos" para a nova etapa.
"Quando defrontou surfistas do CT, eliminou-as, ganhou heats", tenha sido no Challenger Series, circuito de qualificação onde Yo-To se sagrou bicampeã europeia WSL, enquanto wildcard do World Tour, no Mundial ISA ou nas duas edições olímpicas em que participou, Tóquio2020 e Paris2024.
"(Yolanda Hopkins) Já surfou em quase todos os lugares. Se perguntar às surfistas ou treinadores, provavelmente dirão que a pessoa mais perigosa para metade das ondas será ela, porque ela é realmente boa em todos os CT's", refere.
Preparado para transportar a casa às costas no próximo ano, deixa uma nota final "Vai ser um ano grande e temos algum tempo para preparar", suspirou John Tranter, treinador de Yolanda Hopkins.